Dicas pra um design sprint de 4 horas
Testamos no iFood o modelo de colaboração rápida proposto pelo Shopify
Adaptando uma das famosas frases de Jane Austen: é uma verdade universalmente conhecida que uma equipe de produto em posse de um desafio deve estar correndo contra o tempo.

Esse era o nosso cenário aqui no iFood recentemente. Havíamos recebido o desafio de criar a experiência de uma nova iniciativa da empresa, mas não tínhamos muito tempo para pesquisas, testes e entrevistas.
Coincidentemente na mesma semana em que essa demanda surgiu, recebi uma newsletter contendo o artigo The 4-hour design sprint, criado pela equipe do Shopify. Eles adaptaram o famoso processo de design sprint para uma versão reduzida de 4 horas.
O design sprint original
Para quem não conhece, o design sprint é um processo de cinco dias de trabalho colaborativo, que serve para responder perguntas críticas de um negócio por meio de design, prototipagem e teste de ideias com clientes. Ele foi desenvolvido pelo pessoal do Google Ventures.
É uma ótima maneira de validar hipóteses investindo pouco tempo e dinheiro. Se você nunca participou ou ouviu falar do design sprint, o site da GV tem as informações que você precisa para começar um.
A versão reduzida do Shopify
O design sprint de 4 horas foi elaborado por Laura Moldovan e Janice Chow do Shopify para responder com mais velocidade às necessidades provocadas por grandes mudanças na empresa de e-commerce canadense.
Na proposta delas, os 3 primeiros dias do design sprint foram condensados em 4 horas. O objetivo é gerar o maior número de ideias possível nesse tempo.
A agenda, muito bem estruturada, contempla horários para introdução, contextualização, ideação individual, ideação em grupo e apresentações finais. No final, a equipe deve ter insumos suficientes para convergir em uma proposta inicial e começar protótipos, testes ou até mesmo partir para a criação de backlog.

Se você tem interesse em testar esse design sprint de 4 horas, o artigo original traz toda a dinâmica bem detalhada. Aqui eu exponho alguns aprendizados que tivemos na nossa experiência com ele.
O sprint de 4 horas no iFood
A dinâmica aconteceu no escritório do iFood de Campinas e contou com 7 participantes de áreas diversas.
Como estávamos com um grupo menor, decidi fazer um ajuste na agenda proposta no artigo original: em vez de fazermos uma ideação em grupo, dei mais tempo para que os participantes desenhassem suas propostas individualmente. Depois, as reunimos para discutir durante as apresentações finais.
Por causa dessa mudança, tivemos mais tempo para fazer o Crazy 8s tradicional ao invés do Crazy 6s proposto pelo pessoal do Shopify. O restante do sprint foi bem similar à proposta deles, e conseguimos finalizar pontualmente no horário previsto.

Dicas para o seu design sprint de 4 horas
Se você vai se experimentar um design sprint de curta duração, as dicas a seguir podem te ajudar no processo.
1. Tenha um objetivo claro em mente
Pode parecer óbvio, mas é fundamental que você e todos os participantes tenham em mente qual será o entregável do dia. Por isso, eu montei um Keynote com alguns slides para contar a história do problema que estávamos trabalhando, dar contexto da mecânica que íamos usar e deixar claro o resultado esperado daquilo.
2. Prepare uma base de conhecimento e a compartilhe previamente
O primeiro dia do sprint tradicional é totalmente reservado para conhecer o problema que será trabalhado. Na minha opinião, essa é uma das partes mais importantes do processo mas, infelizmente, não tínhamos muito tempo para isso no nosso sprint reduzido.
Um dos pontos que senti mais falta na nossa experiência foi que todos os participantes tivessem um nível mediano de conhecimento sobre o assunto.
Por isso, recomendo que vocês discutam alguns tópicos anteriormente e compartilhem conhecimento sobre o assunto. Isso fará com que economizem um tempo importante em discussões durante o dia.
3. Não influencie os participantes sugerindo soluções
Logo após uma breve introdução, nós começamos a listar todos os problemas, dúvidas e hipóteses que podiam nos impedir de chegar ao nosso objetivo. Essa etapa é extremamente rica e nos dá base para todo o processo, mas notei que, em alguns momentos, os participantes (incluindo eu) sugeriram soluções em vez de listar problemas ou hipóteses.
O grande problema aqui é que algumas soluções propostas nessa fase apareceram nos desenhos durante a fase de ideação. Apesar de não serem soluções ruins, poderíamos ter outras propostas para o mesmo problema se não houvesse essa influência/viés inicial.
4. Tente convergir no objetivo, mas não descarte ideias
O processo do sprint deve ser centrado ao redor de um problema. Seu escopo não deve ser específico demais nem abrangente demais.
No nosso caso, estávamos avaliando três partes da jornada da pessoa que pede comida pelo app. Um escopo bem abrangente. Apesar disso, conseguimos convergir e gerar boas propostas.
No início da dinâmica deixei claro quais eram as etapas da jornada nas quais iríamos focar, mas acabaram surgindo boas ideias para outras áreas do aplicativo. Não descarte ou reprima essas ideias, pois elas podem ser valiosas no futuro e economizar tempo de ideação.
5. Dê um tempo para os participantes se ambientarem
Todo processo correu bem até a hora de começar a desenhar. Nesse momento, notei que alguns participantes estavam receosos, com dúvidas sobre como deveriam apresentar suas ideias, mesmo eu tendo dito no início que o importante era a ideia e não a forma como ela seria apresentada.
Fizemos cinco Crazy 8s e só partir do terceiro os participantes começaram a pegar ritmo e produzir mais ideias. Para quebrar esse bloqueio criativo inicial, se tiver tempo disponível, sugiro começar a ideação individual com temas menores para que os participantes fiquem mais à vontade.
Na correria do dia a dia é fácil deixar a fase de discovery de lado e partir para soluções sem explorar com cuidado os problemas dos usuários. O nosso design sprint de 4 horas foi um contraponto importante a isso. Um experimento intenso que nos trouxe vários aprendizados num curto espaço de tempo.

Ele não será nossa principal forma de discovery a partir de agora, mas com certeza fará parte do nosso playbook de produto. É uma abordagem muito efetiva para contextos específicos e que pode nos guiar na direção correta em tempos de falta de tempo.
Gostaria de agradecer Isabel Araújo, Lydia Young, Davi Stuart Zilli, Douglas Ferreira, Caio Ferrari, Carol Seixas e Mariana Junqueira por reservarem um tempo para participar da dinâmica e por serem cobaias nesse primeiro teste.